Eu tive a primeira e única filha aos 46 anos.Para mim e acredito que para ela e para meu companheiro, com 45 anos, também foi perfeito.
Hoje tenho 78 anos e ela 32.
Aos 76 ressignifiquei novamente minha vida , me casando com um novo companheiro.
Cris Pàz é colunista do Dia de Beauté, onde publica mensalmente sobre beleza e longevidade.
Eu me tornei mãe aos 36 anos. Adorei engravidar, me senti a mulher mais feliz e gostosa do mundo, mas admito: criar um bebê é um teste de resistência. Naquela fase em que o menino começa a andar e a mãe começa a correr atrás do menino, juro que desejei ser um pouco mais jovem. Curiosamente, a maternidade também me rejuvenesceu. Mães são convocadas a olhar o mundo mais uma vez para, assim, apresentá-lo às suas crias. Nada escapa ao nosso olhar de turistas: o céu, as árvores, joaninhas, borboletas. Até as cores dos carros passam a merecer nossa atenção. Ter um filho é começar do zero uma segunda vida e isso traz muito frescor.
A energia do Francisco crescendo me abastecia feito bateria de celular. Ver o sorriso dele no início do dia deixava logo a minha carga no máximo. Nas horas seguintes, sentimentos de devoção revezavam com impaciência, solidão e desespero, imediatamente aniquilados por aqueles olhos enormes, capazes de abrir meu sorriso, meus braços e devorar meu coração. A maternidade é um delicioso e exaustivo exercício de repetição. Ocupadas por meia dúzia de funções em looping, sequências de 24 horas parecem 36 e a equação não fecha: cada dia demora uma eternidade, mas os meses passam voando. Numa bela manhã você acorda e seu bebê tem voz grossa, pernas cabeludas e uma namorada.
Passa rápido demais, passa voando. A gente logo sente saudade daquela sensação de ter superpoderes, ser tudo pra alguém, ser fonte. E esquece a trabalheira que dá. A natureza caprichou nessa parte porque os bebês são magnéticos, é muito difícil resistir a um.
Pensei nisso mês passado, quando Cláudia Raia anunciou sua gravidez. A notícia viralizou, dentre outras coisas, porque a atriz está em plena menopausa.
Por falar nisso, o 1º Estudo Essity Sobre a Menopausa e Suas Etapas entrevistou 2 mil mulheres brasileiras em setembro de 2022, parte delas já vivenciando o climatério. Para 31% das entrevistadas, a menopausa teve efeito negativo sobre sua autoconfiança. 36% sentiram-se menos atraentes ou sexy como consequência da menopausa. 32% encaram a menopausa como uma constatação de estarem oficialmente velhas. E 55% não gostam de falar sobre a “deterioração” do seu corpo. Se a ideia era investigar se o tema ainda é um tabu, bingo: o teste deu positivo.
O que nos faz voltar à Claudia Raia. Independente do método da concepção – a atriz já tinha declarado ter feito congelamento de óvulos –, Claudia foi alvo de críticas por engravidar de seu terceiro filho aos 55 anos. Ninguém perguntou a idade do marido de Claudia porque, claro, não rende manchete. A velha dupla machismo e etarismo não perde uma.
Leio a gravidez de Claudia Raia como um desejo pela vida. Sua disposição e sua forma física, claro, estão fora da curva. O fato de o marido não ter filhos pode ter sido outro incentivo. Mas é preciso aplaudir o gesto revolucionário da atriz e dançarina como uma quebra importante de paradigma.
O aumento da expectativa de vida tem um recado para dar às mulheres. Não podemos mudar a menopausa ou o envelhecimento, mas podemos ressignificá-los. Se vamos passar cerca de um terço das nossas vidas afetadas pelas transformações do climatério, é melhor que a gente transforme esse período também. Claudia Raia escolheu gerar um filho. Eu escolho outras formas de gestar, a exemplo do que ouvi em 2020 da psiquiatra e psicanalista Ana Ester Nogueira Pinto: “Depois da menopausa, a mulher deixa de gestar filhos e se torna mais capaz de parir a si mesma”.
Um novo amor, uma virada profissional, um projeto que nunca saiu do papel. Aquela viagem, pequenas ou grandes mudanças de vida. O que você está gestando agora?
Cris Pàz é colunista do Dia de Beauté, onde publica mensalmente sobre beleza e longevidade. Publicitária premiada e escritora com oito livros publicados, ela nasceu em 1970 e é uma das precursoras da produção de conteúdo digital no Brasil. Colunista da rádio BandNews FM de BH, comanda o podcast 50 Crises (entre os destaques de 2020 no Spotify Brasil) e traz novos olhares sobre saúde mental, protagonismo feminino, maternidade, moda e longevidade por meio de suas redes e palestras.
{Fotos: Cottonbro / Pexels, reprodução Instagram @eucrisguerra/ Foto Fernando Martins @cameraclara e @claudiaraia / Foto @msbfoto}
Eu tive a primeira e única filha aos 46 anos.Para mim e acredito que para ela e para meu companheiro, com 45 anos, também foi perfeito.
Hoje tenho 78 anos e ela 32.
Aos 76 ressignifiquei novamente minha vida , me casando com um novo companheiro.
Sensacional! Cris realmente é brilhante…
Eu me tornei mãe aos 20 😲 (primeiro vez), mas a última foi com 32 e foi completamente diferente! Resistência do corpo, disposição para as atividades! A cicatrização foi mas “dura”! Mas a experiência da maternidade anterior me guiou melhor nas ações…muito mais madura!
Bjo da Pri 😘😘😘
[…] de autoconhecimento, vale fazer uma reflexão sobre a forma que você lida com o tempo, como nessa coluna em que a Cris Pàz reflete sobre as diversas possibilidades de gestações. Um novo amor, uma […]
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