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O business do clean beauty: um dos segmentos que mais cresce no mercado da beleza

27/09/21

Nos anos 1970, a marca americana CoverGirl lançou uma linha de maquiagem chamada “Clean Makeup”. O anúncio da revista mostrava o rosto de uma moça com pele de boneca, visivelmente maquiada, ao lado de um texto que explicava se tratar de “maquiagem medicamentosa”, produtos formulados com antisépticos e hidratantes. 

Os novos ingredientes seriam responsáveis não só por deixar o visual “limpo”, sem craquelar, como também tornar os produtos bons para a pele. Corta para 2021: esse mesmo preceito, unir performance à saúde, compõe o segmento de mercado mais fervilhante da beleza atual: “clean beauty”, que você já deve ter ouvido falar, e vai ouvir ainda mais no futuro. 

Não à toa: até 2024, o mercado global de clean beauty deve ter o tamanho de US$ 22 bilhões, de acordo com a consultoria Statista – para você ter ideia do que isso significa, esse valor, que representa uma projeção de quanto todas as marcas do setor vão gerar em receita, é quase o tamanho que o mercado brasileiro todo registrou em 2020. 

A força do clean beauty é tanta que não só tem sido o motor do crescimento de marcas que nascem com o “limpo” como premissa (como Sallve, Care Natural Beauty, Simple Organic, Drunk Elephant e tantas outras que já fazem parte da sua nécessaire), mas também de grandes transformações em marcas tradicionais, que têm se mobilizado para adequar sua produção a uma nova realidade.

Por que estamos falando de clean beauty agora?

Dos anos 1970 pra cá muita coisa aconteceu, e o clean virou parte de um movimento mais amplo, de bem-estar, de um estilo de vida que prioriza escolhas que sejam boas para o corpo e para o meio ambiente, incluindo a preocupação com os animais. Foi na gastronomia que até hoje mais se desenvolveu esse conceito: uma “alimentação limpa” é aquela que evita alimentos ultraprocessados (Rita Lobo que o diga!) e festeja os orgânicos e ingredientes vindos das mãos de pequenos produtores (alguém disse Bela Gil?). 

É na levada deste movimento que tem crescido a disposição para um novo tipo de consumo. A pesquisa “Sustentabilidade: o impacto no hábito dos brasileiros e nas marcas”, realizado pela empresa de estudos do consumidor Toluna em parceria com a FGV, mostra que 75% dos brasileiros mudaram hábitos de consumo devido à preocupação com o planeta. Desses, 70% o fizeram por preocupação com o próprio bem-estar e 65% pela preocupação com as próximas gerações. 

A preocupação com a saúde se acentuou em tempos de COVID-19, o que levou as pessoas a se atentarem mais também às compras de beleza. Uma pesquisa da startup Opinion Box para a Flora (dona da OX Cosméticos), realizada entre março e abril de 2021 com cerca de 500 brasileiros, apontou que nos últimos meses 75% mudaram seu critério de escolha de produtos de beleza, e 40% priorizam produtos com uma quantidade mínima de químicos e ingredientes naturais. A marca americana Biossance sentiu na pele essa mudança. Camila Farnezi, diretora da empresa para a América Latina, conta que em 2020, auge da pandemia, o e-commerce do Brasil cresceu 300%. Para 2021, a meta é crescer mais 100%.

Em entrevista à Vogue francesa, a pesquisadora de tendências Vitoria Buchanan, do The Future Laboratory, diz que a obsessão por bem-estar e detox foram gatilhos importantes para o atual boom do clean beauty. “Os consumidores estão cada vez mais informados sobre as possíveis irritações causadas por ingredientes sintéticos e estão lendo os rótulos com mais cuidado”, diz a pesquisadora. Nos Estados Unidos, dermatologistas estão relatando um fenômeno crescente de pele sensibilizada causado pelo aumento do estresse e da exposição à poluição e às telas.

A força do clean beauty é tanta que não só tem sido o motor do crescimento de marcas que nascem com o “limpo” como premissa, mas também de grandes transformações em marcas tradicionais.

Mais ingredientes naturais, menos artificiais

Foi justamente uma questão de saúde que inspirou o lançamento da Care Natural Beauty. Em 2017, uma das sócias da marca, Luciana Vieira, precisou passar por uma quimioterapia e durante o processo foi proibida pelos médicos de usar cosméticos (o medicamento usado para o tratamento de câncer normalmente deixa a pele sensibilizada e suscetível a alergias e outras alterações, por isso é comum esse tipo de restrição). 

Luciana acabou entrando em contato com formulações naturais e, um ano depois, ao lado de Patrícia de Divitis, criou a Care, cujas maquiagens e itens de skincare aliam tecnologia a ingredientes naturais e orgânicos e podem ser usados inclusive por pacientes de câncer. Logo no ano de lançamento, a marca passou pelo processo de aceleração da Sephora, de seis meses de treinamento e mentoria, e de lá pra cá já soma 27 produtos no portfólio e planeja para 2022 ter sua primeira loja física. 

“Durante o processo com a Sephora, tivemos a oportunidade de conversar com o Jean-André Rougeot [atual CEO da Sephora para as Américas, que por 12 anos foi presidente da Benefit], e ele ficou muito impressionado com as formulações dos nossos produtos, que têm açaí, pracaxi, antioxidantes da Amazônia”, conta Patrícia. Clean beauty passou a ser também uma oportunidade para marcas que ressaltam o uso de ingredientes naturais tipicamente brasileiros.

Das marcas indie ao mainstream global

As primeiras marcas a usar o termo clean beauty da maneira contemporânea foram as chamadas indie brands, marcas pequenas e independentes, nascidas no universo online e fora dos grandes grupos de beleza, como Tatcha e Drunk Elephant (que acaba de chegar ao Brasil) lá fora, Sallve, Care e Simple Organic aqui no Brasil. No início, antes de aderir ao termo da vez, as mensagens das marcas eram mais centradas em palavras como “não-tóxico”, “puro” ou “mais segura”. 

Conforme essas marcas foram crescendo e ganhando público, principalmente na internet, foram chamando a atenção de grandes grupos e também de redes de varejo. Em 2019, o grupo Shiseido comprou a Drunk Elephant por US$ 845 milhões, enquanto a Unilever, que já era dona de outra marca desse nicho, a Ren, adquiriu a Tatcha por US$ 500 milhões. De acordo com uma reportagem do jornal Washington Post com dados da empresa de pesquisa NPD, dentro do mercado de marcas de luxo de beleza, grifes de skincare que se apresentam como “naturais” cresceram 14% entre 2018 e 2019, enquanto marcas “limpas” pularam 39% no mesmo período. Não há dúvidas de que clean é o termo da vez.

Diante dessa oportunidade, passaram a surgir, principalmente nos Estados Unidos, lojas de beleza que só vendem marcas com essa pegada, como Credo e The Detox Market. “Esse movimento de lojas de clean beauty é fundamental para incentivar o surgimento de marcas limpas de beleza”, diz Patricia Lima, fundadora e CEO da Simple Organic. 

A marca brasileira, lançada em 2017, que já tem 25 lojas e logo começará a ser distribuída em farmácias, está iniciando um processo de internacionalização justamente pelos Estados Unidos, onde será vendida a princípio via e-commerce. No próximo ano, parte para a Europa, onde o plano é chegar no varejo físico.

Um exemplo de como o varejo de clean beauty é forte nos Estados Unidos é o site da Sephora. O e-commerce de beleza do grupo LVMH possui as categorias de produtos “clean” e “clean + planet positive”, estabelecendo seus próprios critérios sobre o que faz parte de cada um. Na área de “clean” estão marcas que “são transparentes sobre sua formulação, a origem das matérias-primas e a ausência de certos ingredientes”. Lá estão 77 rótulos, entre eles BareMinerals, Fenty Skin, Korres e Milk Makeup. 

Mas a realidade é que hoje e nos próximos anos, se o consumidor não perceber um produto de beleza como limpo e seguro, será cada vez mais difícil convencê-lo a levar este item ao caixa

Já os “clean + planet positive” aparecem com o seguinte aviso: “a terra está enfrentando uma crise ambiental. Todos devemos fazer melhor para sermos mais sustentáveis – e a indústria da beleza não é exceção. (…) Conheça as marcas limpas mais ambiciosas em uma missão de mudar a beleza da paisagem e a Terra para melhor.” 

Dezenove marcas, entre Biossance, Caudalie e a própria Sephora Collection, têm, além das preocupações com ingredientes das anteriores, ao menos uma meta de melhoria do clima (como operações de carbono neutro ou redução na emissão de gases de efeito estufa), fornecedores de matéria-prima sustentável, sem embalagens desnecessárias ou que não sejam recicladas e/ou recicláveis e que seja comprometida em doar ao menos 1% dos lucros para alguma ONG que colabore para melhoria do meio ambiente.

No Brasil, ainda não encontramos grandes varejistas de beleza que usem clean beauty como uma segmentação de produtos como faz a Sephora americana – a Beleza na Web usa uma tag para destacar produtos veganos e cruelty free; Época Cosméticos tem a divisão “Eco”, em que junta produtos que sejam atestados como cruelty free, veganos, orgânicos e/ou naturais; a Sephora brasileira não tem nenhum indicativo neste sentido. Porém, em um movimento mais nichado, alguns sites especializados nesse segmento, como Biouté e Slow Beauty, vêm chamando a atenção, enquanto a Amaro, que está com uma curadoria cada vez mais extensa de produtos de beleza, tem uma seção batizada “Sustentáveis” que reúne diversas opções. 

No mundo físico, a Dominique Maison de Beauté nasceu em 2018 com ótima seleção de marcas importadas com essa pegada – pense em pioneiras como RMS e Ilia, de maquiagem, Rahua, de cuidados com o cabelo, skincare da Odacité e esmaltes da Kure Bazaar. Inaugurada em 2020, a Téa, braço de beleza e bem-estar da loja conceito Pinga, também segue o preceito da beleza natural, com várias marcas indies brasileiras.  

Há quem diga que o clean beauty é só mais uma jogada de marketing do mercado, uma onda que daqui a pouco passa, ou mesmo que a exclusão de ingredientes químicos das fórmulas seria algo temporário. Mas a realidade é que hoje e nos próximos anos, se o consumidor não perceber um produto de beleza como limpo e seguro, será cada vez mais difícil convencê-lo a levar este item ao caixa e, por consequência, receber reconhecimento de investidores. Isso porque o mercado financeiro está cada vez mais de olho nos princípios de sustentabilidade na hora de fazer suas apostas. 

Richard Gersten, sócio da Tengram Capital Partners, uma empresa de private equity em Nova York que investe em marcas de beleza de luxo, disse ao jornal Washington Post que “limpo tornou-se o preço da admissão” para marcas. Por isso, marcas antigas e já consolidadas têm investido em diversas iniciativas ligadas aos preceitos do clean beauty (ou ao menos comunicado mais vocalmente atributos que sempre tiveram, mas antes não eram pauta) para não ficarem para trás. A L’Óreal, por exemplo, inaugurou em 2019 o primeiro laboratório de produção artificial de pele humana para testes (como alternativa ao uso de animais), e O Boticário lançou neste mês a campanha “Me Completa”, para promover os refis de produtos.

Mas afinal, o que é clean beauty? Entenda corretamente esse conceito nesta matéria aqui.

Rebeca de Moraes é jornalista, pesquisadora de tendências e comportamento de consumo, e eterna estudante de psicanálise. Especialista em business da beleza, adora contar as boas histórias que existem por trás dos números.

{Fotos: Dom Aguiar/ Unsplash e reprodução Instagram @carenaturalbeauty}

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