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Afinal, escrever faz bem?

01/03/24

O estímulo à escrita tem sido crescente nos últimos anos. Cursos, redes sociais, livros e programas específicos têm colocado muita gente para praticar. Fizemos uma pesquisa informal com alguns amigos e conhecidos (não jornalistas nem escritores!) e percebemos que alguns deles incluíram a escrita em suas rotinas recentemente. Mas, afinal, quais benefícios o hábito da escrita pode nos proporcionar?

A principal pesquisa sobre o assunto foi realizada pelo professor de psicologia James Pennebaker, em 1986. Ele pediu para um grupo de estudantes escreverem por 15 minutos sobre o momento mais difícil de suas vidas. Isso foi feito por quatro dias consecutivos, colocando no papel pensamentos e sensações profundas e nunca compartilhadas.

Enquanto isso, um outro grupo escreveu fazendo descrições de objetos ou cenas. Pennebaker passou, então, a monitorar a frequência que os participantes da pesquisa iam ao médico. O resultado foi que aqueles que escreveram sobre suas emoções foram menos ao médico nos meses seguintes. A partir dessa constatação muitos outros pesquisadores começaram a investigar a relação entre a escrita e o sistema imune. Além da regulação emocional, há pesquisas indicando benefícios para os efeitos da asma, artrite, enxaqueca, ferimentos, entre outros diagnósticos.

Não podemos dizer que a escrita cura doenças, mas ela nos ajuda no enfrentamento delas e de outros tantos desafios que encaramos pela vida. As explicações para os efeitos terapêuticos da escrita têm fundamento na própria gênese da psicologia. Organizamos as nossas emoções e damos significado às nossas vivências através da linguagem. Isso pode acontecer quando contamos algo para a terapeuta, para uma amiga ou no ato de escrever. “A escrita é uma ferramenta que pode nos conduzir a uma organização de vida interna e externa. É um convite à auto-observação e isso é bastante positivo”, explica a psicóloga Tais Masi.

A escrita não cura doenças, mas nos ajuda no enfrentamento delas e de outros tantos desafios que encaramos pela vida

A jornalista Ana Holanda, professora de escrita afetuosa, é uma entusiasta da prática. Ela sente na pele os benefícios e diz que a escrita a salvou em dois momentos específicos: quando se separou, em 2020, e atualmente, ao dar vazão a sentimentos que emergem quando se depara com o envelhecimento dos pais. “A escrita nos aproxima dos nossos sentimentos e é aliada à saúde mental. Comprovo isso em sala de aula e pessoalmente. Para mim é como se eu estivesse quase me afogando e a escrita chegasse para dar vazão a essa água dentro de mim. Me sinto mais leve em relação a uma situação, a um sentimento”, afirma Ana. 

Não só a escrita guiada por professores faz sucesso. A prática da escrita livre, aquela em que deixamos o fluxo do pensamento guiar as palavras no papel, também está em alta. Um grande estímulo para essa modalidade é o programa criado por Julia Cameron ensinado no livro “O Caminho do Artista”. A essência do método detalhado de doze semanas é a escrita matinal, quando se deve escrever à mão três páginas livremente ao acordar. Segundo Cameron, esse exercício mapeia nosso interior. É uma escavação de sentimentos, emoções, sonhos… 

O livro foi traduzido para mais de 40 países e os ensinamentos já contaram com a chancela de personalidades, como a escritora Elizabeth Gilbert, que alega ter escrito “Comer Rezar e Amar” depois de ter feito o programa. O resultado da escrita matinal não está apenas na liberação da criatividade, mas também no manejo das emoções através das palavras. 

A psicóloga Taís Masi reitera que a escrita não substitui a terapia, já que é uma ferramenta usada por algumas correntes da psicologia que pode gerar transformações e regular as emoções. É importante evitar a romantização. Muitas vezes não basta sugerir a alguém que esteja passando por alguma dificuldade que escreva, como se isso fosse curar todas as dores. “Tem um espaço que a pessoa precisa transpor antes de começar que é muito difícil. Quando se está em sofrimento, pode ser complicado começar a escrever sobre algo que não estamos nem conseguindo falar. A escrita é gentil, não adianta entrar nela como se quisesse chutar a porta, mas uma dica que dou é ir pelas beiradas”, afirma Ana. 

Ir pelas beiradas significa não escrever exatamente sobre o assunto que está causando angústia, mas algum aspecto dele. Por exemplo: alguém está triste porque perdeu um ente querido. Podemos sugerir que se escreva sobre algo particular dessa relação. Uma receita compartilhada? Uma viagem? Essa é uma forma de começar a lidar com a dor, sem, exatamente, escrever sobre ela.

“A escrita nos aproxima dos sentimentos. É como se eu estivesse quase me afogando e a escrita chegasse para dar vazão a essa água dentro de mim”

A escrita, como um espaço de encontro com a gente mesmo, além de ajudar a organizar as emoções também facilita o planejamento de ações, segundo Taís Masi. “Podemos pensar na simplória lista do mercado, que, ao ser escrita, orienta sobre o que devo comprar. Mas a escrita sobre algum acontecimento, vivência, sentimento também me prepara para agir, seja ao procurar alguém para uma conversa, por exemplo, ou definir os próximos passos para a transição de uma carreira”. 

Se podemos dar um conselho final é: experimente. Não precisa começar com muitas páginas. Anote poucas linhas, quando puder e quiser. Nesse momento introspectivo, sem julgamentos ou distrações, observe os efeitos no seu corpo, nas suas emoções e ações. E responda você mesma a pergunta do título: escrever faz bem? 

{Fotos: ROMAN ODINTSOV e Mariam Antadze / Pexels}

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