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O amor, a essa altura

16/04/24
Foto: Malik Al-Asmi

E se de repente você não se sente ameaçada. E se eventualmente tem medo, é o medo inerente à vida. Se você se pega distraída, serena, sem precisar imaginar se está nos planos dele, porque sabe que está nos planos dele. Se num belo dia você está fazendo o que ama — uma sessão de cinema, um café com uma amiga, um trabalho extraordinariamente bom — e não pensa duas vezes em compartilhar com ele, certa de que ele vai ficar feliz por te saber feliz. Se você compartilha memes com a mesma frequência com que diz eu te amo. Se num dia comum você se pega entendendo que o amor é simples, fácil, real. Se você deseja um amor assim para as amigas. Se o coração aperta por motivos reais, imaginários ou quase impossíveis de explicar, e é com ele que você quer falar, porque sabe que vai ser ouvida e, melhor que isso, compreendida. Se vocês conversam sobre absolutamente qualquer coisa. Se você escreve um texto sobre a sua bunda não ser mais a mesma, inspirada numa conversa que começou despretensiosamente entre vocês, e você está absolutamente certa de que isso não vai atrapalhar a próxima transa — pelo contrário. Se você sente que sua sensualidade vai muito além da cama, do corpo, da barriga que está ou não ali, mas mora na risada inesperada, na piada original, no seu jeito de ficar triste e admitir que, sim, é difícil ficar sem o antidepressivo. Se você se sente esquisita e ele concorda — e adora. Se vocês dois são esquisitos juntos. Se são livres e cúmplices, se entre os dois qualquer coisa ordinária é novidade. Se olhar um para o outro é bom, e se olhar juntos para algo ainda mais interessante é melhor.  Se podem conversar sobre o medo de envelhecer. Se podem envelhecer conversando. Se aquele papo sobre a menopausa remete a uma exposição de arte, se uma piada infame vira um verso, um filme ou a letra de uma música que você não conhecia. Se um disco de vinil transforma a segunda à noite. Se dizer alô no telefone é tão estranho, que vocês passam metade do telefonema rindo disso. Se trocam reclamações cotidianas com pitadas de sarcasmo e desfechos de stand up. Se ele é capaz de tocar seus medos com o cuidado de quem desarma uma bomba num campo minado. Se vocês cuidam bem dos campos minados um do outro. Se são capazes de transformar dores terríveis em histórias pra contar. Se o mau humor pode ser divertido. Se vocês se pegam trocando receitas de como preparar batata doce no café da manhã, pra substituir o glúten. Se falam sobre os melhores suplementos e confessam como se sentem derrubados pelo tempo. Se contabilizam quantos anos ainda podem ter pela frente. Se aproveitam cada minuto como se não houvesse um dia pela frente. Se o resto da sua vida tem se mostrado bem mais interessante do que boa parte da vida que já passou. Se você reclama do calor na cozinha na hora de lavar a louça, porque ele tem a mania de cozinhar de janela fechada e não gosta de ser visto pelos vizinhos, e o resultado de um acesso de raiva depois do almoço são os dois sentados no chão em frente à pia, às gargalhadas. Se ele é sagaz o suficiente para entender que aquilo não é você, é o climatério. Se comprar o creme para esfoliar o pé dele é um gesto romântico. Se você gosta de medir a pressão arterial de ambos de vez em quando, pra conferir se está tudo bem. Se compartilham os avanços na mudança da dieta, de hábitos, da forma de trabalhar. Se continuam se incentivando quando não conseguem. Se você acorda e o café da manhã está pronto. Se ele faz o almoço e você lava a louça. Se ele confere se você está levando a bombinha de asma na bolsa. Você encontrou o amor maduro. Que sorte.

Cris Pàz é colunista do Dia de Beauté, onde publica mensalmente sobre beleza e longevidade. Publicitária premiada e escritora com oito livros publicados, ela nasceu em 1970 e é uma das precursoras da produção de conteúdo digital no Brasil. Colunista da rádio BandNews FM de BH, comanda o podcast 50 Crises (entre os destaques de 2020 no Spotify Brasil) e traz novos olhares sobre saúde mental, protagonismo feminino, maternidade, moda e longevidade por meio de suas redes e palestras.

{Fotos: Malik Al-Asmi}

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