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O tempo do amor

13/06/23

Cris Pàz é colunista do Dia de Beauté, onde publica mensalmente sobre beleza e longevidade.

Escrevo dia 12 de junho, depois de rolar a timeline do Instagram vendo centenas de casais sorrindo, em meio a contundentes declarações de amor. É meu primeiro Dia dos Namorados solteira depois de cinco anos de namoro. O relacionamento começou junto com meu climatério: eu tinha 47 anos e não fazia ideia da dimensão dessa fase da vida. Saio a caminho dos 53, na pós-menopausa com mais rugas, menos ingenuidade e mais aprendizados.

Confesso que senti medo. Num país machista e etarista como o Brasil, tomar a iniciativa de sair de uma vida a dois depois dos 50 é um salto no vazio. Pelo menos foi o que me ensinaram a acreditar. E só depois de dar o salto entendi o tamanho da saudade que eu estava sentindo de mim mesma. 

Nos mais de 1800 dias de um namoro, o desejo de ser família tentou conciliar rotinas atribuladas, filhos de relacionamentos anteriores, diferenças que pareciam de outras vidas. Não conseguimos e ainda assim valeu a pena. 

Aprendi que a velha máxima “os opostos se atraem” pode render algumas noites, não uma vida em comum. Que nem toda a disposição do mundo é capaz de cultivar afinidades que não existem. Que qualquer amor é em vão quando os olhares se distraem para direções opostas. Sei que não sou mesmo fácil – alguém é? Que as relações que aparentam ter nascido prontas têm um quê de ficção. Que calma, disposição e paciência são outros nomes do afeto. Que a alquimia de uma vida a dois está em encontrar prazer na construção. 

Dizer adeus pode ser, enfim, revelar o amor pelo outro no desejo de que ele se encontre. Afeto e cuidado cabem também nas entrelinhas da ruptura. 

Os desafios desse tempo juntos me mostraram, definitivamente, quais são meus valores inegociáveis. Diálogo, o oxigênio da relação – no espaço não ocupado pela conversa ergue-se um muro que torna impossível qualquer travessia. Companheirismo, que distingue amor do mero encantamento. Humor, essa palavra sagrada, sintonia fina e rara que assume papel cada vez mais importante à medida que o tempo passa. “Onde não puderes gargalhar, não te demores”, eu diria, parafraseando Eleonora Duse, atriz italiana cuja frase vive sendo atribuída a Frida Kahlo. 

Aprendi a amar amando. Também foi amando que aprendi a me despedir — esse verbo que sempre acaba no banco dos réus, acusado injustamente de desamor. Dizer adeus pode ser, enfim, revelar o amor pelo outro no desejo de que ele se encontre. Afeto e cuidado cabem também nas entrelinhas da ruptura. 

Saio novamente para um recomeço, depois de amar muito e muitas vezes. Conhecedora da minha alegria, sabedora do que me entristece, jamais tão certa dos meus limites. Nunca soube tão bem do que preciso e do que sou capaz de apurar em mim. Você pode chamar de má sorte no amor. Eu chamo de autoconhecimento. Saio inteira e, acredite, mais confiante no amor. Hoje sei tão mais sobre ele. Hoje sei tão mais sobre mim.

Será mais fácil me relacionar agora? Depende do que estou buscando. Minha companhia tem sido boa demais para que eu a troque por qualquer uma. É essa a serenidade que me aquece a esperança. Me sinto pronta, o amor pode vir. Saberei reconhecer quando ele chegar.

Cris Pàz é colunista do Dia de Beauté, onde publica mensalmente sobre beleza e longevidade. Publicitária premiada e escritora com oito livros publicados, ela nasceu em 1970 e é uma das precursoras da produção de conteúdo digital no Brasil. Colunista da rádio BandNews FM de BH, comanda o podcast 50 Crises (entre os destaques de 2020 no Spotify Brasil) e traz novos olhares sobre saúde mental, protagonismo feminino, maternidade, moda e longevidade por meio de suas redes e palestras.

{Foto: Polina Kovaleva / Pexels}

Comentários

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2 replies on “O tempo do amor”

Simplesmente um dos mais belos textos que já li.

Não apenas sobre o amor em si mas sobre a coragem de se vive-lo na maturidade (quando o mundo decide que nós, mulheres, devemos abdicar do amor e da sexualidade) e também em qualquer outra fase da vida.

Cris Pàz, seu texto é uma celebração. Deveria ser comemorado todos os dias.

Meus parabéns!!

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