Simplicidade, praticidade, leveza. Produtos para a vida real.

Produtos para a vida real.

Compre aqui!

Trança afro: beleza e ancestralidade

03/11/22

As tranças afro, principalmente as nagô, brilharam nos recentes desfiles internacionais da temporada verão 2023. Carregados de história e ancestralidade, esses penteados exaltam a beleza negra, as raízes da cultura africana, além de reforçarem um movimento de resistência e resgate da autoestima.

Conversamos com referências no assunto para entender mais sobre os significados por trás desses penteados que enchem nossas pastinhas de inspiração e, claro, tirar todas as dúvidas sobre as técnicas e cuidados para os diferentes estilos.

Cabelos esculpidos 

“Os estudos sobre as esculturas africanas, ao mostrar a evolução histórica dos penteados, revelam-nos todo um percurso de mudanças, recriação e extinção de alguns deles. Podemos recompor um pouco do contexto cultural e histórico de povos que viveram séculos passados e que nem sempre nos deixaram registros escritos”, elabora Nilma Lino Gomes,  doutora em Antropologia Social e pós-doutora em Sociologia, no livro “Sem Perder a Raiz: Corpo e cabelo como símbolos da identidade negra”

Para Nilma, essa continua sendo uma forte marca na estética do negro na diáspora (fora do continente). Ao comparar os penteados esculpidos nas estátuas de etnias africanas com os realizados hoje, conclui que “algo ficou, ou melhor, nem tudo se perdeu e muito se recriou, quando refletimos sobre o simbolismo e a manipulação do cabelo do negro”. 

Em outra passagem do livro, a socióloga conta que, na tradição Iorubá, todas as mulheres eram ensinadas a trançar, mas qualquer garota que mostrasse talento na arte de ser cabeleireira era encorajada a se tornar uma “mestra”, passando o conhecimento adiante. 

“O trançado nagô, que começa na raiz, traz muito as memórias de infância, de quando nossas mães e avós trançavam os nossos cabelos aos domingos. Depois de adulta que passei a me interessar mais pelo assunto e descobri que os desenhos dessas tranças na cabeça também podem ter sido usados no período da escravidão para revelar rotas de fuga de negros até os quilombos. É triste, mas também acho muito bonito ver como a gente conseguiu ressignificar tudo isso. Dá um sentido ainda maior para o meu trabalho”, conta a carioca Kauana Hora Ramos, trancista há 18 anos. 

Domênica Corrêa, que trança cabelos crespos e cacheados há 16 anos em São Paulo, diz que a procura pelas tranças aumentou muito nos últimos sete anos. “O número de clientes triplicou e isso tem a ver com o movimento negro. Muitas meninas que cortaram o cabelo curtinho para fazer a transição capilar me procuram. Além de ajudar no crescimento do cabelo, as tranças melhoram muito a autoestima nesse momento”. 

Para as duas trancistas, o encontro e conexão com outras mulheres negras ao trançar seus cabelos vai além da estética. “Falo que parece uma terapia. A gente conversa, desabafa. Até porque são pelo menos 5 horas juntas, né? (risos). Acompanho a evolução delas e fico tão feliz de ver que a maioria já se permite brincar mais com os penteados, mudar os estilos. A trança não é mais para “lidar” com o cabelo, sabe?  É algo mais leve, para celebrar mesmo”, revela Kauana. 

Algo ficou, ou melhor, nem tudo se perdeu e muito se recriou, quando refletimos sobre o simbolismo e a manipulação do cabelo do negro

Summer Renaissance

E falando em celebração, acho que esse momento do texto pede uma trilha sonora à altura. Já até dei o play em Summer Renaissance, da Beyoncé, para dizer que: sim, além de toda beleza e ancestralidade, as tranças afro também trazem mais praticidade para curtir os dias quentes! 

Para quem está buscando referências para as próximas tranças ou pensando em fazer pela primeira vez, contamos tudo sobre os tipos mais usados, técnicas e cuidados para manter os fios saudáveis e bonitos. 

As tranças finas, curtas e leves são as sugeridas pela trancista Domênica Corrêa para o verão. Ao entrar no mar ou piscina elas pesam menos e facilitam os cuidados. Agora, se a ideia é apostar nas micro braids, aquelas bem fininhas, prepare-se para horas a mais de produção. 

“Geralmente, eu levo 5 horas para trançar o cabelo todo, mas as tranças finas demoram cerca de 8 horas para ficar prontas. E, dependendo da técnica da trancista e da quantidade de cabelo, às vezes é necessário mais de um dia para concluir”, avisa Kauana Ramos. 

Vem de inspiração! 

Entre os tipos mais usados no Brasil estão as tranças enraizadas (nagô), que podem ser completamente rentes à raiz ou presas na parte da frente e soltas no comprimento, e as soltas (box braids). 

“Tem também a trança Fulani, que parece a versão presa na frente e solta atrás da nagô, só que com uma trança enraizada bem ao centro da cabeça. Esses estilos enraizados duram entre 15 dias e um mês e são mais usados para festas, viagens e ocasiões especiais. As soltas podem durar até 3 meses”, explica Kauana. 

Já as soltas (box braids) podem ser feitas com diversas técnicas. A mais comum usa tranças de três mechas que mesclam os fios naturais e apliques geralmente feitos com jumbo e kanekalon. A twist envolve o cabelo com camadas de extensão enroladas em duas mechas.

“A base para qualquer tipo de trança é a matemática da divisão do cabelo em mechas. As técnicas variam de acordo com cada tipo. Uma que gosto muito e que indico para fios mais frágeis é a crochet braid. Primeiro, eu faço a nagô em toda a raiz do cabelo natural e depois uso agulha de crochet para costurar o aplique com as tranças já prontas”, explica Kauana. 

Aliás, essa é uma possibilidade também para os dreads sintéticos. “Nem todas querem colocar da forma tradicional pela dificuldade da remoção. Os dreads “fakes” já vêm prontos e ficam lindos também”, complementa Domênica. 

Dúvidas de beauté 

Manter as tranças lindas e os fios naturais saudáveis exige alguns cuidados. A dermatologista Katleen da Cruz Conceição, chefe do ambulatório de dermatologia para pele negra da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e mentora do Skin of Color Society,  explica que os cabelos afros possuem menos fibra elástica e, portanto, são mais suscetíveis à quebra. 

Para evitar que isso aconteça, ela recomenda que a manutenção das tranças, principalmente na frente, seja realizada a cada dois meses e, no cabelo todo, a cada três meses. “Utilizar as tranças por um longo tempo sem manutenção pode provocar alopécia (falta de cabelo) até evoluindo para a alopécia cicatricial (sem o crescimento do cabelo)”, detalha. 

Outro ponto que merece atenção é a tração exagerada e o peso do material utilizado para a extensão. “Tranças muito pesadas também podem provocar alopécia, sobretudo cicatricial. Por isso é importante trançar com profissionais experientes e que protejam o seu cabelo e  couro cabeludo”. 

Sobre apertar demais a raiz do cabelo ao trançar, Kauana afirma que não é necessário. Pulando Pretty Hurts na playlist agora! 

“Trançar é cuidar das pessoas, então é importante sempre conversar para entender a sensibilidade do outro. Antes de escolher a fibra e a técnica que vou utilizar, avalio o cabelo, a rotina da pessoa, tudo isso influencia. Mas com esses cuidados e a habilidade da profissional, o cabelo não quebra, pelo contrário, ele cresce mais saudável e fica protegido”, garante a trancista. 

Na hora de lavar, a dica das profissionais é fazer uma misturinha de xampu e água no borrifador e aplicar na raiz, pelo menos duas vezes na semana, massageando suavemente com os dedos, sem esfregar. O condicionador pode ser dispensado para evitar que as tranças se desfaçam. Quanto ao uso do secador, é importante para não deixar as tranças molhadas por muito tempo, mas vale conversar com a trancista para entender se o tipo de fibra utilizada é compatível. 

Ao retirar as tranças, se jogue na hidratação e nutrição. Ativos naturais como óleo de coco e argan são ótimos para nutrir e reparar os fios, protegendo as cutículas, recomenda Katleen Conceição. Segundo a dermatologista, com o cabelo saudável e hidratado, não é preciso esperar para trançar novamente, pode ser até no mesmo dia. 

“Como acredito muito nessa parte de conexão com as minhas clientes, sempre aconselho que elas curtam o cabelo natural por alguns dias, sintam a textura, tratem dos fios naturais com carinho e fiquem confiantes de todas as formas”, diz Domênica.

{Fotos: Pascal Le Segretain, Pietro D’Aprano e Peter White / Getty Images e reprodução Instagram}

Comentários

(Veja Todos os Comentarios)

2 replies on “Trança afro: beleza e ancestralidade”

Conteúdo maravilhoso, me inspirou a procurar um profissional pra estar fazendo curso . Muito obg

Leave a Reply

Your email address will not be published.

Categorias:
Cabelo ,
Tags: