“Pequeno Almanaque da Beleza” resgata memórias afetivas da beleza brasileira
Olhar para a história da beleza para celebrar o presente e vislumbrar o futuro. Foi pensando nesse movimento que a jornalista Marcia Disitzer lançou o livro “Pequeno Almanaque da Beleza”, uma pequena grande contribuição para manter viva a estética brasileira, trazendo à tona marcas, produtos, musas, cosméticos, nomes, cores e cheiros que envolvem a beleza no Brasil desde o século passado.
E Marcia é uma craque nesse movimento: em 2012, ela lançou o livro “Um Mergulho no Rio – 100 Anos de Moda e Comportamento na Praia Carioca”, em que analisava 100 anos do beachwear carioca em paralelo com as mudanças sociais do Rio de Janeiro. A obra foi tão celebrada que vai, em breve, virar também documentário. “Eu quis fazer isso também na beleza, resgatar ícones do passado para celebrar nosso presente”, diz a jornalista, que deu uma entrevista ao Dia de Beauté para contar mais sobre “Pequeno Almanaque da Beleza”, publicado com o incentivo da Lei Rouanet e apoio da Keune.
DDB: No livro, você fala muito sobre as mudanças no espírito do tempo como combustível para o caminho percorrido pela história da beleza. Depois de analisar tantas mudanças ao longo dos últimos anos, quais elementos do espírito do tempo você acha que mais influenciam a beleza atual?
MD: A principal mola de transformação são as mudanças sociais, de comportamento – e principalmente, no caso das mulheres, a emancipação feminina, o feminismo. Isso tudo caminha junto com as evoluções da moda e também da beleza. Temos duas décadas muito importantes no século XX: a década de 1920, quando as mulheres cortam o cabelo, adotam uma silhueta mais tubular, dispensam os excessos da belle époque e começa um movimento de libertação; e a década de 1960, quando o mundo virou de cabeça para baixo e as mulheres começaram a reivindicar seus direitos. A beleza, assim como a moda, reflete essas mudanças.
Na apresentação do livro, você comenta sobre o caráter perverso dos padrões estéticos. Pode dar exemplos disso?
São muitas perversidades. Ter que seguir um determinado modelo estético, de corpo – seja o formato violão de uma determinada época, seja o visual andrógino de outro -, porque cada mulher é uma, cada ser humano é um e nós deveríamos respeitas nossas identidades, coisa que estamos fazendo melhor hoje. No cabelo também houve muita perversidade, como a obsessão pelo cabelo liso – houve um momento em que se passava o cabelo à ferro! E que bom que hoje estamos em outro momento, de valorizar e enaltecer o crespo, encaracolado, ondulado… Enfim, todos os tipos, e ser feliz do jeito que somos. É uma evolução, mas acho que quem passou por esse momento deve ter sofrido muito.
No almanaque, você fala muito de marcas e produtos como símbolos de memória afetiva. Por que você acha que temos tanta memória afetiva em torno de elementos ligados à beleza?
A beleza faz parte da vida. E tem vários produtos que acompanharam nossa infância, nossa adolescência, e que criam memórias e vínculos – eu quis trazer à tona esses produtos de várias gerações, desde a pomada Minâncora até o Neutrox, que por uma época era o único creme que se passava para hidratar o cabelo, não tinha essa variedade e diversidade de produtos que existiam antes. Acho que a propaganda também vai alimentando uma memória afetiva de todos nós, e adoro resgatar isso. A gente tem que entender o passado para tomar frente do presente e vislumbrar o futuro.
Serviço:
Pequeno Almanaque da Beleza
Editora: Andrea Jakobsson Estúdio
{Fotos: Divulgação e Catarina Ribeiro}
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