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O dia em que fiquei loira

22/11/22

Cris Pàz é colunista do Dia de Beauté, onde publica mensalmente sobre beleza e longevidade.

Dias atrás, ouvindo um episódio do podcast Mamilos, ouvi a psicanalista Cecília Magtaz dizer que “o amor-próprio é a forma que o corpo tem de se apropriar do amor que ele recebe”. Nunca tinha pensado no amor-próprio como atribuição do corpo. Guardei a frase para a vida.

Tenho apreço pelo conceito de autoestima. Acredito ter conseguido ainda jovem, com os recursos que tinha, construir (ou desbravar) meu caminho até ele. Se a minha dificuldade era me sentir diferente, fiz da diferença o atalho para forjar a identidade que gosto de ter — sem artificialismos ou falsa modéstia. Fato é que ocupei meu espaço sem constrangimento e tenho a mim mesma como parâmetro. O que uns podem chamar de autocentramento, defino como me entender com minha imagem — e não falo só da aparência.

Como qualquer construção, a do amor-próprio leva tempo — e a obra nunca termina. Sigo mudando e ajustando a rota a cada vez que o tempo me transforma. O envelhecimento marca mudanças diante das quais é preciso se reposicionar. Sejam as mudanças radicais ou não, é sempre um novo corpo e uma nova visão sobre ele.

O cabelo branco é um exemplo dentre esses marcos que nos obrigam a olhar de novo e nos re-conhecer. Em um dado momento, é preciso refazer essa rota de amor-próprio. Lembrando que, quanto mais longa a estrada, maior é a sorte dos desafetos. O que fazer com o que vivemos? Como contamos nossas histórias?

Talvez as saídas (ou arranjos) que fiz desde cedo tenham me ensinado a ser otimista. Tenho lidado com o passar do tempo da maneira mais positiva possível, sem autoengano. Meu olhar para o espelho nem sempre gosta do que vê, mas busca o que há de melhor. E essa intenção faz diferença.

Foi com esse espírito que decidi encarar o cabelo branco, há três anos, e conhecer minha versão “envelhecendo”. Brilhou aos meus olhos a beleza genuína dos prateados. Mas não é fácil competir com a simbologia explícita que o grisalho costuma carregar. Fios brancos nos transformam aos olhos do outro, que tende a nos relegar à condição definitiva de “senhoras”. É preciso estar atenta e forte, pois acreditar nessa classificação imaginária é se deixar invisibilizar aos poucos.

O amor-próprio é a forma que o corpo tem de se apropriar do amor que ele recebe.

Minha tática é a mesma de quando alguém me diz, mesmo só com olhar, que não sou bonita o bastante: apenas não me identifico. Em alguns momentos, porém, o recado do cabelo branco é claro: “você envelheceu” (no passado, mesmo, como se a vida não fosse gerúndio).

Outro dia, num desses instantes em que o tempo verbal não me caiu bem, tive o ímpeto de ficar loira. Tinha feito isso duas vezes na vida e o resultado fora no mínimo esquisito: fios desidratados (e desencapados) emoldurando um rosto exausto, arrependido e cansado da química. Mas agora tudo prometia ser mais suave: o cabelo grisalho há 3 anos, a pele clara associada aos fios idem. Mudar do prata para o dourado não seria mudança tão radical.

Minha cabeleireira sugeriu um tal efeito gloss, escolheu um tom dourado palha e lá fomos nós. Saí do salão linda e loira, sem saber quanto tempo aquilo duraria — a cor e o surto.

A diferença é mesmo sutil: nenhum queixo cai quando me veem. Já o simbolismo é uma virada de chave. “Os homens preferem as loiras”, diz o título do filme de 1954, estrelado por Marylin Monroe. São eles, o título e a atriz, os culpados por esse imaginário de sensualidade adormecido em mim, sempre prestes a despertar.

“Mulher não envelhece, fica loira”, diz outra frase carregada de preconceitos. E eu pergunto: por que não? Sigo loira, velha e feliz, até o dia que mudar de ideia. Enquanto isso, meu corpo se apropria do amor, da arte e das histórias que vivo e vivi. Não importa quantos aniversários eu faça, não pretendo parar de brincar.

Cris Pàz é colunista do Dia de Beauté, onde publica mensalmente sobre beleza e longevidade. Publicitária premiada e escritora com oito livros publicados, ela nasceu em 1970 e é uma das precursoras da produção de conteúdo digital no Brasil. Colunista da rádio BandNews FM de BH, comanda o podcast 50 Crises (entre os destaques de 2020 no Spotify Brasil) e traz novos olhares sobre saúde mental, protagonismo feminino, maternidade, moda e longevidade por meio de suas redes e palestras.

{Foto: reprodução Instagram @eucrisguerra}

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One reply on “O dia em que fiquei loira”

Sigo amando Cris Páz. Mulher maravilhosa!!!!!! Loira, prateada, de qualquer jeito rsrsrsrs

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