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Com a palavra, o cabelo branco

22/09/22

Cris Pàz é colunista do Dia de Beauté, onde publica mensalmente sobre beleza e longevidade.

Ele chegou na minha vida antes dos 30 anos, mas fiz questão de não botar reparo. Eu tingia o cabelo desde os 20 e segui assim por décadas, silenciando-o desde a raiz. Aos 35, tive de encarar os fios brancos que eu não poderia tingir até o fim da minha gestação. “Não sei se uso a fila de gestantes ou de idosos”, eu brincava, na ilusão de que a adolescência daquele bebê (e a minha menopausa) fossem coisa para um futuro distante. Dias depois do parto eu já estava no salão, de volta à rotina de amordaçar mensalmente qualquer vestígio do tempo. 

“Envelheça, desde que longe dos meus olhos”, diz a sociedade, especialmente para as mulheres. Por isso, assumir o grisalho mexe tanto com a nossa cabeça (com o perdão do trocadilho). Eu tinha 49 anos quando decidi experimentar aquilo que exercia sobre mim um misto de medo e fascínio. Do cabelo que eu brincava ser “do tipo nhá-benta — preto por fora, branco por dentro”, passei a exibir o recheio (diga-se de passagem, a parte mais gostosa do bombom). Eu não sabia se aquela decisão era uma carta de alforria ou só um habeas corpus provisório. E lá se vão 3 anos vivendo com ele. 

Cabelos brancos falam sobre o envelhecimento de quem os assume, mas também sobre o de quem os vê

Se o meu cabelo branco falasse, o que ele diria?

Não, eu não sou sinal de desleixo.

Até porque, peço mais cuidados. Meus fios precisam de mais nutrição e hidratação e minha cor, tão linda, precisa ser protegida. Vale usar um bom xampu desamarelador 1 a 2 vezes por semana. Um bom antifrizz também tem o seu lugar.

Sim, eu posso ajudar você a fazer as pazes com a ideia de envelhecer 

Assumir o cabelo branco é admitir, para si mesma e para o mundo, que você está envelhecendo. Um traço tão marcante na sua aparência passa a lembra-la, a cada vez que olha no espelho, que você entrou definitivamente para a idade madura. É como colocar a cabeça pra fora da janela durante a viagem, pra sentir o “vento” do envelhecimento. Um jeito de abraçá-lo de forma gradual — e saudável, já que pesquisas mostram que assumir que estamos envelhecendo ajuda a viver melhor essa transição, em ambos os aspectos: físico e psicológico.

Sou uma bandeira antietarismo e também um manifesto feminista 

(mesmo que a intenção não seja esta)

Assumir o grisalho acena para uma novidade: eu, o cabelo naturalmente branco, sou uma possibilidade – e uma bela possibilidade. Mas, não há como negar, eu também sou uma bandeira, porque costumo provocar reações – de repulsa ou incentivo. Eu falo sobre o envelhecimento de quem me assume, mas falo também sobre o envelhecimento de quem me vê. Que está em curso, não se engane. Sou um convite a desconstruir o etarismo que mora em cada um, essa dificuldade tremenda com a ideia de envelhecer.

E como preconceitos adoram andar em bando, no caso das mulheres o etarismo é praticamente um prolongamento do machismo. Afinal, por que num homem todo mundo me lê como charme, credibilidade, sabedoria e, na mulher, sou visto como “prazo de validade prestes a vencer”? Pra transformar isso, eu proponho uma revolução: uma onda de cabeças prateadas invadindo telas e time-lines. O desfecho do episódio etarista que demitiu a âncora de TV canadense Lisa La Flamme mostra que a imagem tem tanto poder para reforçar padrões quanto para derrubá-los.

Sim, sou um desbravador de caminhos

E você deve celebrar cada mulher que decide me assumir. Antes de pensar que isso é uma palavra de ordem para você também parar de tingir os seus fios, saiba que o recado é sobre liberdade. Sobre somar uma alternativa que sequer era considerada antes. Cada mulher que toma essa decisão está suavizando o caminho para que um dia, se quiser, você possa seguir por ele.

Sim, eu sou lindo – e você pode se sentir linda comigo

Posso ser moderno e cheio de glamour. E não deixo você menos mulher, menos sexy, menos interessante. A não ser que você se veja assim. Repare bem, eu suavizo a sua fisionomia. Parece que a natureza pensou nisso quando planejou a ação do tempo sobre a sua pele. E basta uma leve maquiagem para você se sentir mais bonita.

Eu poupo o seu tempo, justo quando ele é cada vez mais precioso

Quando você descobrir que provavelmente já viveu mais da metade da vida, entenderá que precisa escolher bem onde investir o tempo que tem. Ele se torna um ativo mais escasso e, portanto, mais precioso. Seus momentos passam a valer mais! O tempo que você gastava pra tingir o cabelo todo mês, pode converter em caminhadas, cafés com as amigas, páginas de livros. Não é por acaso que eu sou cor de prata.

 

Cris Pàz é colunista do Dia de Beauté, onde publica mensalmente sobre beleza e longevidade. Publicitária premiada e escritora com oito livros publicados, ela nasceu em 1970 e é uma das precursoras da produção de conteúdo digital no Brasil. Colunista da rádio BandNews FM de BH, comanda o podcast 50 Crises (entre os destaques de 2020 no Spotify Brasil) e traz novos olhares sobre saúde mental, protagonismo feminino, maternidade, moda e longevidade por meio de suas redes e palestras.

{Foto: Pedro Duarte e reprodução Instagram}

Comentários

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One reply on “Com a palavra, o cabelo branco”

Oi Cris, me vi nesta coluna. Mas além dos dos meus assumidos grisalhos, enfrentei outra cobrança. sempre tive dificuldade com as unhas, gosto de usar livremente as mãos, sentir a terra na hora da jardinagem, e para quem quer estar sempre com as unhas em dia, isso é sacrifício, nunca gostei de unhas pintadas , enfeitadas então…, Sensação de que não são minhas, decidi então, por ter unhas apenas higienizadas e uma base, cores não, doei todos os meus esmaltes vibrantes. Sim sou cobrada por não estar com unhas vermelhas, azuis, verdes, com adesivos, strass. Vejo algumas lindas sim, mas em mim soa carnaval. Mas assumi,e hoje, mais feliz, com unhas limpas e livres dos esmaltes coloridos e sim muito feminina.

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