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(Falta de) peitos e autoaceitação: reflexões de uma despeitada em tempos de explante de silicone

16/05/22

No começo do ano passado encontrei minha amiga Fiorella Mattheis para um almoço, depois de muito tempo sem nos vermos, e ela me contou sobre a operação que tinha feito para remover o silicone. Fiquei super curiosa a respeito de suas motivações – até porque não é uma cirurgia simples -, e Fio disse que tinha colocado silicone aos 17 anos (em 2005), quando começou na carreira de modelo. O motivo? Ouviu que se não colocasse peito, nunca daria certo na profissão. Era o default na época: quer ser modelo e ter sucesso? Ou você já tem um peito de tamanho x, ou precisa colocar silicone. Simples, e claro que ninguém questionava muito, só fazia. 

Só que por muitos anos, Fiorella passou a ter episódios de inchaço, dor, até febre, que os médicos entendiam como “displasia mamária”, supostamente causada por hormônios. “Hoje tenho certeza que isso já era meu corpo rejeitando a prótese. Até que um dia encapsulou, inflamou e rompeu, e eu fiz o explante. Depois disso, nunca mais tive episódios da tal displasia”, conta. Ela nem cogitou colocar um novo silicone. “Não fazia sentido arriscar minha saúde por estética, sendo que já era feliz com meu corpo antes do implante.” 

Alguns meses depois desse encontro com Fiorella, estava passeando pelo Instagram quando vejo um post da (ótima) criadora de conteúdo Thai de Melo Bufrem compartilhando que tinha passado pela mesma cirurgia de remoção do silicone. Fiquei intrigada – de novo, não é uma cirurgia simples, e o que costumamos ver é gente querendo por peito, raramente tirar. “Coloquei silicone com 24 anos, depois de ter meus filhos. Sempre ‘quis’ colocar, mas hoje tenho a clareza de que coloquei silicone sem nem pensar, coloquei pra me enturmar. Não medi as consequências, não pensei que um dia teria que trocar as próteses e encarar outra cirurgia, outro gasto pois uma cirurgia custa caro, enfim, de fato não pensei”, me contou Thai. 

“Quando acordei da cirurgia, senti uma dor enorme e ali me perguntei o primeiro: ‘Por que fiz isso comigo?’. O tempo foi passando e eu fui me ‘acostumando’, até porque não queria passar por outra cirurgia tão cedo. Fiquei muito tempo entendendo tudo e também me informando para saber como seria se eu tirasse. Quando fiz 10 anos de prótese, em vez de trocar, finalmente consegui explantar. Hoje me sinto leve! Acho que tudo na vida são fases, e a do silicone passou para mim. Não sou contra nada, muito pelo contrário, sou a favor de termos a liberdade de escolhermos, mas hoje não quero mais normalizar esse tipo de intervenção na minha vida”, concluiu.

 

A autoestima passa muito pela autoaceitação, e esse processo não deveria ser complicado – deveria ser a norma.

Talvez vocês estejam se perguntando o porquê de todo esse meu interesse no assunto. Bom, eu sempre tive peito pequeno, mas mesmo vivendo uma adolescência na era Baywatch / Victoria’s Secret (não consigo pensar em referências mais “peito bonito é peito grande” do que essas) -, nunca passou pela minha cabeça colocar silicone. Sempre achei o seguinte: nasceu com peito grande, legal, sorte a sua, nasceu com peito pequeno, é isso aí. Notem que não era um caso de autoestima na lua “amo meu peito pequeno ai que sucesso vou enaltecê-lo”, era só uma aceitação básica de que aquele não era um dos meus pontos fortes, mas tinha outros então vida que segue. Sempre fui uma otimista crônica, e acho que isso sem querer acabou ajudando no meu processo de autoestima – não porque me achava / ache maravilhosa, mas porque foco nas coisas boas e ignoro as “ruins”. 

Tenho inúmeras amigas que colocaram silicone na adolescência ou quase adultas, e confesso que meio que não entendia, ficava admirada que a vontade de ter o tal peito maior era TÃO grande a ponto de justificar uma cirurgia super invasiva, de recuperação chata, sem falar no custo. Lembrando que nenhum desses casos tinha o fator “sucesso na carreira” pesando, como foi o caso da Fiorella e de tantas modelos / atrizes / pessoas cuja imagem é seu trabalho – ou seja, um claro exemplo de como os padrões de beleza impactam a vida das pessoas, numa espécie de looping negativo.

Claro que rondando o assunto peito ao longo da minha vida sempre teve a figura da minha mãe, uma mulher cheia de personalidade e com ideias que sempre se mostraram à frente de seu tempo, ou no mínimo diferentes do que o resto das pessoas costumava (e costuma) pensar. Suzana, vejam só, é de onde vem meu peito pequeno. E como dona de seus próprios peitos pequenos, vira e mexe trazia esse assunto à tona ao longo da minha infância e adolescência. Lembro especialmente dela fazendo piadas variadas com mote desvantagens do peito pequeno x vantagens do peito grande, ameaçando de brincadeira colocar silicone para ****ficar gostosona****, mas ela logo retirava a ameaça falando jamais colocaria silicone, “imagina não poder mais dormir de bruços em paz”.

Minha mãe também ficava passada que eu usava sutiãs com arame e bojo – “credo, isso incomoda demais, não sei como aguenta passar o dia assim”. Ela, por sua vez, não usa nada ou no máximo um top de algodão BEM confortável (vocês não imaginam a minúcia de sua pesquisa em busca do top confortável ideal, sempre que encontra um faz estoque). Entre piadas, comentários autocríticos bem-humorados e genuína apreciação por peitos grandes, a verdade é que ela sempre emanou uma incrível segurança de ser quem era, do jeito que era, e isso foi transmitido para nós. Fato curioso: nem depois de um tratamento para câncer de mama, no qual teve que tirar ¼ de um dos peitos, ela considerou colocar prótese – e ainda soltou o seguinte comentário: “E olha que teria saído ‘de graça nesse caso’”.

Eu, como uma pessoa de peito pequeno que com o passar dos anos aprendeu a apreciar suas vantagens, poderia ficar aqui discorrendo sobre elas – mas a ideia desse texto não é fazer batalha “esse tamanho de peito é mais legal que os outros”, nem muito menos sugerir que ninguém nunca mais deveria colocar silicone – inclusive, a maioria das amigas que colocaram mais novas são felizes até hoje com a decisão, e várias outras consideram colocar depois que tiverem filhos. E eu acho maravilhoso (como sempre acharei, para tudo), existir essa OPÇÃO. Mas é isso, o x da questão: o silicone, assim como qualquer outro procedimento estético, dos mais simples aos mais complexos, deveria ser uma opção, ponderada, maturada, com muita consciência e, acima de tudo, algo que VOCÊ faz por VOCÊ. Não é exatamente fácil fazer esse exercício de entender a motivação das nossas vontades, mas acredito do fundo do coração que essa é uma das mais poderosas chaves para uma boa autoestima.

A autoestima passa muito pela autoaceitação, e esse processo não deveria ser complicado – deveria ser a norma. A gente devia crescer achando legal ser do jeito que é, e não se comparando e querendo ser do jeito que não é. Como bem disse Fiorella, “fico feliz de ver que hoje o mercado da moda é muito mais diverso e naturalmente representa mais mulheres, isso pode ajudar a aumentar nossa autoaceitação, com nossos corpos de todos os tipos”. Quem sabe o looping esteja começando a ficar positivo.

{Fotos: Anna Tarazevich / Unsplash e reprodução Instagram}

Comentários

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11 replies on “(Falta de) peitos e autoaceitação: reflexões de uma despeitada em tempos de explante de silicone”

Como e agradável ler seus textos vic! Como uma despeitada, sempre achei legal ter seios pequenos, mas confesso que depois da maternidade fiquei com medo do pos amamentação. Acho silicone algo muito sério e que exige reflexão.

Essas coisas são engraçadas né? Eu sempre tive peito grande, e adorava apesar de também ter seus inconvenientes. Depois de amamentar duas crianças, eles desapareceram! Até pensei no assunto, mas também não acho que vale a pena a cirurgia, e agora posso desfrutar dos benefícios do peito pequeno. Cada um tem um corpo e isso é legal.

Amei o artigo! Acredito que o caminho da autoaceitação é o melhor a ser ensinado para as pessoas!!!

Vic, amo meu peito pequeno!
Me sinto uma francesa fajuta!
Acho chique ter “peito zero” é elegante demais!
Nunca jamais em tempo algum colocaria essa borracha dentro de mim. Adorei a matéria!!

Vic, perfeito ! Tenho observado uma busca por silicone e diversos procedimentos invasivos em uma geração bem mais nova… 17 , 18 anos.
Que possam observar e refletir através de reflexões como as suas.
Um abraço especial à musa, Suzana Ceridono.

Excelente texto e abordagem do assunto. Coloquei também muito nova, adorei o resultado, mas hoje não teria feito essa opção. Penso como tive coragem de passar por uma cirurgia dessas e ainda viver com um corpo estranho no meu peito. Sorte não ter havido nenhuma complicação.
Parabéns pela matéria.

Convida a sua para fazer um post indicando tops/sutiã confortáveis, e/ou um guia para identificar os confortáveis.

Adorei o texto. Tenho seios pequenos e sempre admirei mulheres com seios grandes, achava mais bonito. Mas nunca considerei colocar silicone, convivo bem com o tamanho dos meus seios e eles estão em harmonia com o meu corpo. Sinto que é bastante complicado, especialmente para as mulheres, aprender a aceitar o próprio corpo em meio a tantos padrões impostos pela mídia. Mas não é impossível. Hoje com a internet e com tantos perfis diversificados nas redes sociais, é mais fácil ter acesso a nomes que empoderam todos os tipos de corpos. Seu texto, inclusive, é um exemplo disso. Muito bom.

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