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“Depois de anos de inimizade, selamos paz”: o relato de uma reconciliação com as olheiras

“Olheiras têm seu charme, conferem um ar misterioso e denotam personalidade”. Certamente estava escrito de outra forma, mas é como eu me lembro dessa matéria no Caderno Ela, do jornal O Globo, que li há uns 17 anos. O texto falava sobre como, apesar do padrão ser escondê-las, ter olheiras poderia ser bem charmoso, e trazia para ilustrar pessoas famosas e referências de beleza que tinham olheiras e que as exibiam sem neura, e o quão interessantes e bonitas elas eram justamente por isso.

“Aham. Quem escreveu essa matéria certamente não tem olheiras, não faz ideia do que está falando. Vem aqui sentar do meu lado, vamos conversar”. Aos 15 anos, eu já tinha uma cisma mortal com as minhas. Minha mãe e minhas amigas insistiam que eu enxergava coisa onde não tinha, que eu exagerava, mas fato é que bem antes disso eu já as percebia e fazia de tudo para escondê-las.

Não me pergunte de onde, tão nova, eu tirei a ideia de que precisava cobrir as tais olheiras, mas fato é que aprendi isso ainda muito menina. Lembro, inclusive, de estar na escola e perceber que estava sem corretivo – fiquei agoniada e não tive dúvidas: peguei um gloss, daqueles de rolinho, da Victoria’s Secret, e passei nas olheiras. Sim, gloss, aquela coisa brilhante e super oleosa. Minha melhor amiga viu a cena e disse: “Mas… você não acha que vai chamar mais atenção?”. Respondi que chamaria sim, para o excesso de brilho e oleosidade, mas talvez assim a olheira passasse despercebida. Sem o gloss, era visão direta para as minhas inimigas domiciliadas permanentemente abaixo dos meus olhos. Preferi ficar com o rosto todo oleoso do que expor aquilo que era uma característica minha. Ou melhor, da minha família.

Minha família pelo lado paterno é super morena. Cabelos, sobrancelhas e olhos bem escuros, uma certa combinação de tom de pele com cor de cabelo que nos é muito característica. Não foram poucas as vezes que ouvi alguém dizer “você é muito Pessôa de Queiroz” só por essa “coloração”. E dentre essas características, as mulheres da minha família tendem a ter as olheiras levemente mais escuras.

Passados anos do episódio do gloss nas olheiras, hoje é muito evidente para mim que se trata apenas de um leve sombreado mais escuro, e que de fato ele tem seu charme. Mas demorou muito, mas muito tempo para que eu visse valor nisso, para que eu percebesse como um diferencial e, assim, uma característica que me destacava. Até esse dia chegar, foram anos tentando apagar as olheiras, comprando todos os tipos de corretivos, brigando com aquele craquelado que fica quando se passa produto demais, sem falar no efeito da cor errada, mais clara que a pele, na tentativa de anular o sombreado. Quantas vezes vi acabar meu corretivo no meio de uma viagem (claro, sem lojas por perto) e entrar em desespero – como iria expor aquelas olheiras?

Até que a mudança veio. E não faz muito tempo. Afinal, é um processo para a gente se conhecer, descobrir do que de fato gosta, formar a própria personalidade, isenta de fatores externos que muitas vezes não percebemos estar sendo alvo. Se eu queria ser igual a alguém da revista que não apresentava olheiras? Pior que eu provavelmente diria que não, modéstia a parte sempre tive bastante personalidade, mas tenho certeza que essa informação chegava pelo meu inconsciente, achava que queria escondê-las por vontade própria, mas é bem possível que essa vontade provavelmente era alimentada por algum fator externo que eu desconhecia.

Mas nada como o tempo para te fazer amadurecer. E o começo desse amadurecimento veio com minhas sobrancelhas. Um dia, me cansei daquela rotina chata de ter que “fazê-las”, sendo que eu mesma não sabia porque tinha começado com isso, já que sempre gostei de sobrancelha farta – foi amadurecendo meu olhar e ficando segura dos meus gostos que decidi abandonar de vez esse processo. Ficou claro para mim que a estética natural e imperfeita era a que mais me atraía e, com uns 22 anos, simplesmente parei de fazer as sobrancelhas. Acerto com lápis e pronto.

Com as olheiras, o processo foi mais demorado, mas finalmente chegou. Nesse caminho do amadurecimento, mudei muito minha referência de beleza. Não sei me maquiar direito. Sei um básico apenas, muito por desinteresse, por preferir a estética natural e imperfeita, preguiça e também por não me sentir bem. Explico: não consigo ficar com algo no rosto por muito tempo. Se passo uma base, mesmo que seja a mais fina, pouco tempo depois começo a ficar aflita, com vontade de lavar o rosto. Mesma coisa com rímel, chega a quase me dar coceira. Então, maquiagem para mim é algo que reservo para festas, ou outras ocasiões que pedem uma produção, e nas quais estarei distraída demais para me dar conta de que estou com aquilo no rosto.

Quantas vezes vi acabar meu corretivo no meio de uma viagem (claro, sem lojas por perto) e entrar em desespero – como iria expor aquelas olheiras?

Mas ainda assim, no dia a dia, lá estava eu sempre passando corretivo, apesar de detestar passar o dia com algo no rosto – tamanho o pavor das olheiras aparentes. Pois bem, em 2019, numa viagem para Londres, comentei com a Vic que adoraria aprender a fazer uma maquiagem “realeza baladeira”, nome que convencionei chamar aquela aparência de maquiagem já meio podrinha, de quem saiu e se divertiu a beça. Uma coisa meio podrinha, mas ao mesmo tempo elegante, sempre com Charlotte Casiraghi, uma das minhas grandes referências de beleza, em mente. Fui e voltei para Londres algumas vezes, e nada da Vic me ensinar. Até que, em 2020, finalmente aconteceu e, enquanto ela me explicava os macetes para conquistar o tal look (assista aqui), disse algo que ficou na minha cabeça: para não cobrir muito as olheiras, porque todas elas, as realezas baladeiras, carregavam um pouco desse sombreado. Que a olheira conferia um ar misterioso. E eu com o corretivo em punho.

Pronto. Era tudo que eu precisava (e merecia) ouvir.

Muito do que eu gostava daquela aparência “realeza melada” era justamente aquilo que eu já tinha naturalmente e vinha cobrindo há anos. Como pode? Foi aí que parei para observar: Kristen Stewart, Salma Hayek, Ana Beatriz Barros, Cássia Ávila, Charlotte Casiraghi, todas essas mulheres que sempre achei tão sexy, com ar levemente misterioso, têm o quê? Olheiras. Aliás, Ana Beatriz Barros era uma das pessoas citadas naquela matéria que eu li aos 15 anos e que me deixou quase revoltada.

De forma muito pensada, decidi me permitir uma semana levando minha vida normal, mas sem corretivo, apenas com um pouco de blush. Meu Deus, que liberdade. E sendo eu mesma, naturalmente, com aquela aparência realeza melada mas sem precisar dormir tarde, acordar de ressaca ou passar maquiagem chegar nesse efeito.

De verdade: que liberdade. Para mim, que sempre me senti desconfortável com produtos no rosto, é uma sensação de leveza tão boa. Fora o alívio que é não precisar mais pensar em corretivo, em esconder, em checar de tempos em tempos se está craquelado. E, claro, ter aprendido sozinha (ou quase sozinha. Obrigada Vic) a enxergar beleza e sexyness no imperfeito, no que me faz diferente dos outros. Não é defeito, é diferente. 

E o que me faz diferente é justamente o que me torna bonita e interessante e, claro, me destaca. Desde que decidi não usar mais corretivo, algumas vezes recebi mensagens no Instagram dizendo algo como “acho seu olhar tão sexy”. Quem diria! E eu sei a quem atribuir esse crédito: minhas inimigas de outrora, e hoje minhas companheiras inseparáveis. As olheiras. E aí eu te pergunto: quem são as inimigas com as quais você poderia tentar fazer as pazes?

Maria Helena Pessôa de Queiroz é advogada por formação, mas tem como vocação contar histórias, através dos álbuns de fotos que faz com sua marca de papelaria deluxe, MH Studios, e das vivências que compartilha em seu Instagram, @mariahelenapq.

{Fotos: Tanja Ivanova/ Getty Images e acervo Maria Helena}

Comentários

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11 replies on ““Depois de anos de inimizade, selamos paz”: o relato de uma reconciliação com as olheiras”

Vic, convence a MH a escrever semanalmente, que delícia de texto! Muito bom ver como o amadurecimento nos dá segurança para ser quem somos.

Ameiii
Vivo em conflito com minhas olheiras e sobrancelhas e durante a pandemia comecei a aprender a ter um olhar diferente sobre os “padrões de beleza” e começar a aceitar mais essas “imperfeições “
MH escreva mais vezes !
Bjs

Impecável como sempre. Me identifiquei muito com esse relato (e quem sabe não seja a hora de abandonar o corretivo por aqui)

Nossa que texto lindo o da Helena sobre olheiras. TB tenho olheiras por genética e ler isso me tirou um peso.

Que texto lindo! Amei! eu não sofro mto com as minhas olheiras, mas com marcas de espinhas. comecei a usar maquiagem, depois cuidar da pele com a intenção de um dia poder exibir minha pele saudável sem maquiagem, mas me livrar da maquiagem não foi fácil. posso dizer que a pandemia me ensinou a não usar maquiagem e aceitar minha pele natural e imperfeita. não precisamos estar com a pele linda todos os dias. e realmente é libertador não ter estas preocupações. posso dizer que aprendi mta coisa com a forma da Vic lidar com maquiagem e com beleza. amando esta coluna de “traumas resolvidos”.

Aceitar as diferenças e aprender a conviver com elas é realmente libertador. Parabéns Bila!

Que matéria!!!
Libertadora!

Parabéns, Maria Helena!
Você me fez pensar “fora da caixinha”!

Beijos!
@almeidacaca

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