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Falta de atenção e foco? Você tem um cérebro pandêmico (e não está sozinha nisso!)

17/01/22

Você liga o computador para começar a trabalhar. Ao menor sinal daqueles três segundos que a janela demora pra abrir, você já está agarrada no celular, abre Instagram, pula pro Twitter, LinkedIn… Quando vê, sabe-se lá quanto tempo passou e você ainda não começou a trabalhar. É hora de pagar uma conta pelo aplicativo do banco. Tela azul: qual é mesmo a senha? E aquele plano de deletar o Instagram por uns dias, porque o vício cresceu nos últimos tempos?

Se identificou, né? Pois saiba que você não está sozinha. Nossos cérebros tornaram-se cérebros pandêmicos. É assim que estudiosos têm coloquialmente chamado o que acontece em nossa massa encefálica por conta do estresse gerado pelo distanciamento social e ansiedade na pandemia de COVID-19. O que você sente é real, tem nome, e é uma experiência coletiva. Por isso é tão difícil encontrar quem não esteja vivenciando sintomas como dificuldade para focar no trabalho, falta de atenção ou perdas de memória recente. A boa notícia é que tomando consciência dessa situação, há muito a fazer para ajudar o cérebro a funcionar melhor no meio desse caos!

Por enquanto não há consenso entre os estudiosos sobre efeitos de longo prazo de um “cérebro pandêmico”. As primeiras pesquisas que dão conta do fenômeno começaram da observação de profissionais da saúde, que viram aumentar as reclamações de dificuldades cognitivas. “Pude observar na minha clínica algumas queixas que foram se repetindo durante a pandemia, como irritação, cansaço extremo, insônia, falta de foco e atenção, e até mesmo a perda de prazer nas coisas simples” conta a psicanalista Gabriela Medeiros. 

Pesquisadores de universidades do mundo todo estão em busca de respostas e já reportando seus primeiros achados para entender quais seriam os gatilhos para esses sintomas tão comuns nesses tempos. Uma pesquisa divulgada em 2021 pela Universidade de Exeter e pelo King’s College de Londres analisou os cérebros de 6.000 pessoas com mais de 50 anos durante o lockdown e detectou que se saíram pior nos testes cognitivos aqueles que sofriam dos níveis mais altos de ansiedade e depressão. E por conta disso, afirmam os pesquisadores, seu cérebro envelheceu durante a pandemia o equivalente a algo em torno de seis anos.

Mas por que estresse, ansiedade e depressão, que nós conhecemos desde antes de saber o que era a COVID-19, seriam agora gatilhos para mais sintomas? Neurologistas explicam que o prolongamento da pandemia desafia o nível de estresse que pode ser considerado “bom” para o cérebro. Um nível “bom” de estresse é aquele que você sente quando precisa, por exemplo, completar uma tarefa em cima da hora, e assim que ela é concluída você relaxa. O problema é quando você não consegue enxergar o fim, e o estresse permanece sem prazo para acabar – exatamente o que anda acontecendo com a gente. Estamos, com a pandemia, vivendo um período que parece sem fim, afrouxando e apertando confinamentos, restrições, criando e recriando medidas de suposta proteção sem ter ideia de quando vamos recuperar o que nos habituamos a chamar de normalidade.

Mas por que estresse, ansiedade e depressão, que nós conhecemos desde antes de saber o que era a COVID-19, seriam agora gatilhos para mais sintomas?

Efeitos do isolamento

Ainda que no Brasil cada um tenha feito o isolamento social da maneira que pôde, houve para todos alguma privação no convívio social. Estudos de muitos anos já comprovaram que a falta de interação social tem efeitos reais no cérebro.

Na última edição presencial do SXSW, um dos principais eventos de inovação do mundo, nos EUA, a pesquisadora Julianne Holt-Lunstad, da Universidade de Berkley, apresentou uma pesquisa mostrando que estar desconectada do mundo representa um perigo comparável a fumar 15 cigarros por dia e é mais preditivo de morte prematura do que os efeitos da poluição do ar ou da inatividade física. Os dados apontam para a necessidade de tratar com seriedade nossa necessidade de contato com outras pessoas.

Muitos governos já ligaram o sinal de alerta e estão tratando coletivamente a questão da solidão. O Reino Unido tem, desde 2018, o Ministério da Solidão, dedicado ao cuidado da saúde mental das pessoas (em especial idosos) que por algum motivo acabam isolados. Já nos Estados Unidos, em 2017 foi lançado um estudo sobre a importância do tecido social norte-americano na vida dos cidadãos, incluindo relações com famílias, comunidades, locais de trabalho e instituições religiosas. 

O professor James Goodwin, autor do best-seller “Supercharge Your Brain”, conhecido por ensinar exercícios para a saúde do cérebro, diz que apesar de não sabemos as consequências do “cérebro pandêmico” no longo prazo, devemos lembrar que apenas 25% do nosso envelhecimento, tanto físico quanto mental, é determinado pelo nosso DNA. Os outros 75% derivam do nosso estilo de vida e do meio ambiente, sobre os quais temos muito a fazer na batalha por melhorar nossa saúde.

Dicas para turbinar o cérebro:

Se estiver estranho, volte ao mundo devagar

A partir das vacinas e da manutenção dos cuidados nos encontros presenciais, sabemos que o contato social, além de muito saudável, é fisiologicamente importante. Mas para muitas pessoas o momento de reconexão com os outros não é tão simples. 

Gabriela recomenda que a volta à vida social seja treinada aos poucos para quem passou a ter dificuldades no convívio social. “Estamos vivendo um momento de readaptação, assim como foi no início da pandemia. Tivemos que aprender a ficar em casa, e agora precisamos voltar a sair. Oriento os pacientes que demonstram maior dificuldade a fazerem pequenos movimentos, como ir a lugares abertos e encontrar pessoas em quem confiam, para ir aos poucos aumentando o repertório social”.

Enriqueça o ambiente

Muitos dos prejuízos com a memória curta (aqueles pequenos esquecimentos, como a chave do carro, comida no fogão ou atividades do dia a dia) estão relacionados com certa falta de ‘treinamento’ do cérebro. Para lutar contra isso, a sugestão é enriquecer o ambiente de casa para poder intercalar as telas do computador e do celular com atividades que ofereçam estímulos diferentes. Cozinhar, investir no cuidado com plantas, reservar um momento para leitura e exercícios físicos podem ajudar nisso. 

I like to move it, move it…

Caminhe, corra, faça yoga, cuide da horta… mexa-se! Foi isso que salvou a saúde mental de muita gente na pandemia, e é o que vai te ajudar a “rejuvenescer” seu cérebro. Estudos científicos mostram que o exercício aeróbico produz proteínas fundamentais para gerar neurônios, responsáveis por manter o cérebro afiado. Mas veja bem: médicos dizem que não é sobre virar atleta, e tampouco sobre se exercitar e passar o resto do dia sentado. O exercício não é um antídoto para a preguiça, ele deve fazer parte de um dia a dia ativo. Caminhar com o cachorro, trocar o elevador pela escada, levantar da mesa de trabalho de tempos em tempos para tomar água, tudo isso coloca você em movimento e seu cérebro agradece!

Pare de falar mal da rotina!

A máxima da poetisa Elisa Lucinda é o nosso novo mantra: a variação nos horários de dormir e hábitos irregulares mexeram com a saúde de muita gente nos últimos meses. Tente manter horários para dormir, acordar e fazer refeições. Ainda que você tenha um dia a dia afobado, médicos recomendam que se escolha pequenos rituais (acender uma velinha antes de dormir, o momento do skincare, alguns minutinhos de meditação) para incorporar à rotina, isso tudo é muito poderoso para controlar o estresse e equalizar o ritmo no corpo.

Lembre-se das pequenas interações

Um dos achados do Harvard Adult Development Study, um dos principais estudos sobre a vida adulta do mundo, é que pessoas que têm relacionamentos de boa qualidade – amigos com quem se importam, convivência com familiares que fazem a diferença – são mais felizes, mais saudáveis ​​e têm cérebros melhores a longo prazo. É fundamental manter contato com os amigos seja lá por que meio for: WhatsApp, e-mail, redes sociais ou Zoom. Mas lembre-se que conexões sociais vão além disso: cumprimentar os vizinhos ou conversar com o balconista do supermercado também é importante. Médicos nos lembram que nós precisamos das conexões sociais assim como precisamos de água e de comida!

Food for thought

Você sabia que três quartos de todos os alimentos do supermercado vêm de cinco tipos de animais e 12 plantas? Médicos e nutricionistas recomendam aumentar a diversidade de alimentos, para termos mais chance de ingerir todos os nutrientes que são vitais para a saúde do cérebro. Ao comer alimentos ricos em fibras e não processados, também nutrimos nossas bactérias intestinais, que são essenciais para a saúde do cérebro (já ouviu falar que o intestino é o “segundo cérebro”? Pois é, estudos recentes mostram que o intestino tem influência sobre nossas emoções, nosso sono, comportamentos e até transtornos mentais). Entre os nutrientes mais importantes para a saúde do cérebro estão: complexo B, magnésio, vitaminas B12 e D, zinco e ômega 3, comumente achados em alimentos como peixes, nozes e alimentos cítricos (lembrando que vale sempre consultar um médico antes de pensar em usar suplementos!).

Rebeca de Moraes é jornalista, pesquisadora de tendências e comportamento de consumo, e eterna estudante de psicanálise. Especialista em business da beleza, adora contar as boas histórias que existem por trás dos números.

{Fotos: reprodução Mayıs, Ketut Subiyanto, Elina Fairytale, Valeria Ushakova, Daniel Reche, Monstera e Rachel Claire / Pexels}

Comentários

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3 replies on “Falta de atenção e foco? Você tem um cérebro pandêmico (e não está sozinha nisso!)”

Aprendi na escola com um professor de O.S.P.B que isolados do convívio social não conseguimos sobreviver.

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